NOVA DEFINIÇÃO DE SÍNDROME DE BURNOUT
A Organização Mundial da Saúde (OMS) passa a dar novo olhar à doença. Será o mais acertado?
O termo psicológico “Síndrome de Burnout” foi criado em 1974 pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger. A palavra burnout vem do inglês to burn out, que significa“queimar por completo”. Segundo o autor, essa síndrome estava relacionada com a sensação de exaustão advinda do excesso de demandas de energia, forças ou recursos pelo qual ele e seus colegas estavam sentindo enquanto trabalhavam como voluntários numa clínica comunitária.Os primeiros estudos científicos relacionados à doença, também conhecida como síndrome da exaustão emocional, foram realizados pela psicóloga americana ChristinaMaslash (1982), a qual definiu essa síndrome em três elementos básicos:
Exaustão emocional
Em estudo realizado com médicos, verificou-se a intensa carga emocional que o contato frequente e penoso com pessoas adoecidas e queixosas de seus sofrimentos proporcionava ao profissional uma sobrecarga psíquica e, alguns, começavam a tornar-se pouco tolerantes, “nervosos”, emocionalmente alterados tanto no ambiente de trabalhoquanto fora dele, interferindo nocivamente nos relacionamentos sociais.
Despersonalização
A pessoa começa a comportar-se de certa forma “fria”e e com pouca empatia, por exemplo, ao dar uma notícia de doença grave a um paciente.
Redução da realização pessoal e profissional
Quando o profissional não enxerga mais em sua profissão a realização profissional e a motivação para continuar na carreira escolhida, gerando sentimentos de decepçãoe frustração que, muitas vezes, levam ao adoecimento como a depressão.Os profissionais mais propensos a desenvolverem a Síndrome de Burnout são aqueles que lidam diretamente com situações da vida das outras pessoas, como: médicos, enfermeiros, policiais, bombeiros, assistentes sociais, psicólogos, e aqueles que são considerados “workhalocs”, que colocam o trabalho como prioridade maior em suas atividades diárias.
Sobre a nova definição
A nova definição de 28 de maio deste ano estabelece
que o Burnout não é uma doença, mas uma síndrome resultante de “estresse crônico no trabalho e que não foi administrado com êxito”.
A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11) entrará em vigor com a inclusão dessa síndrome à partir do dia 1º de janeiro de
2022, com o código QD85 e fará parte do capítulo de “problemas associados ao emprego e ao desemprego”. A nossa atuação e experiência de alguns anos como profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho (SST), nos favorece um olhar mais integrado em relação aos cuidados com o trabalhador. Nesse sentido, argumentamos e, de certa forma, questionamos a nova definição de Síndrome de Burnout pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Propomos, neste artigo, uma reflexão mais ampla e com critério de definição mais abrangente pelo que foi exposto, pois pela nova definição, os riscos psicossociais como: excesso de tarefas, gestão ineficiente de líderes, insalubridade psíquica, carga horária elevada, dentre outros fatores inerentes ao contexto organizacional, não foram considerados também como os agentes estressores. Interessante também pontuarmos que o não saber lidar com o estresse crônico não é apontado como “responsabilidade” do trabalhador em relação ao controle pelos outros riscos ocupacionais como os físicos, químicos e de acidentes, que afetam a saúde física e psíquica dependendo da atividade que exercem nos processos de trabalho.
Estudo de caso com diagnóstico de Síndrome de Burnout
“A ansiedade e o pessimismo tomavam conta de mim”. O relato acima ocorreu oito meses após uma professora ser transferida da unidade de ensino sem consulta prévia,
com sucessivas mudanças de diretoria e assumindo oito turmas com 30 alunos (entre 10 e 14 anos) em cada uma delas. Suas tarefas eram sempre as mesmas, porém a mudança
lhe exigia mais pulso e esforço para conter alunos e concluir,
da melhor forma, cada aula em que se propunha a lecionar.
Estava sempre pensando em suas aulas, no dia seguinte e no que teria que enfrentar pelo mal comportamento de seus alunos, mesmo fora da escola, em momentos
que deveriam ser de lazer. Além do cansaço físico, sentia-se exigida no seu limite emocional.
O mal comportamento dos alunos, a pouca participação nas decisões da instituição e a sua percepção de dificuldade emocional em lidar com os alunos, deixava-a esgotada. O endimento de um terço dos alunos estava abaixo da média. Sentia-se injustiçada pelo mal desempenho destes ser atribuído a ela.
A carga horária era excessiva e sua inexpressiva participação no planejamento das aulas lhe deixava tensa, ansiosa e com sensação de impotência. Sentia-se desmoralizada frente aos alunos, professores e superiores. Certo dia caiu em prantos, ainda na primeira aula do
dia. Aproveitando-se da situação, os alunos realizaram um “grande terremoto” segundo ela. Ausentou-se do trabalho por três meses durante o ano etivo por exaustão física e mental. Passou a apresentar tristeza profunda, falta de prazer nas atividades, dificuldades em tomar decisões, perda de apetite e peso. Sentimento de desvalorização pessoal e ontade de morrer.
Percebeu, a partir deste episódio, que precisava de auxílio médico. Passou por
três afastamentos antes do diagnóstico de Síndrome de Burnout. Esteve afastada por um ano para tratamento com antidepressivos e psicoterapia, obtendo expressiva melhora.
Este caso é um exemplo de que o Burnout parece estar relacionado não a profissões
específicas e sim à maneira como se organiza o trabalho.
Tratamento indicado
Observamos que quando uma determinada empresa não
valoriza políticas de saúde e segurança do trabalho, principalmente no sentido de transmitir informações preventivas, muitos trabalhadores adoecem física e mocionalmente, com sintomas como: apatia, cansaço, desânimo, dores,
irritabilidade, alterações do sono, tristeza excessiva, distanciamento ou isolamento social, dentre outros
Após a constatação de um diagnóstico de Síndrome de Burnout, o encaminhamento que normalmente é indicado são os antidepressivos e, em alguns casos, a psicoterapia.
O determinante fundamental nos atendimentos realizados pela prática clínica parece ser a impossibilidade encontrada por pessoas profundamente engajadas em atingir o ideal, impossibilidade esta também determinada pelas características da organização do trabalho da não participação nas decisões da organização. ■
Míriam Cristina Zaidan Mota – Psicóloga, especialista
em Neuropsicologia da empresa SSO Medicina do Trabalho.
Dra. Rosane Reis Pontes e Silva – Médica do
Trabalho da empresa SSO Medicina do Trabalho.
www.sso.com.br
Tel. (11) 3772-3194 ou (11) 3771-3484
Download do Artigo em PDF:
CIPA 479 – Artigo OMS Burnout
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Cristiano Cecatto
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